REGISTROS, ISSN 2250-8112, Vol. 19 (2) julio-diciembre 2023: 1-3

 

O projeto urbano moderno, história e vigência

The Modern Urban Design, Topicality and History

 

Horacio Torrent

Escuela de Arquitectura, Pontificia Universidad Católica de Chile, Chile

Editor responsable del número

Claudia Costa Cabral

Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, Departamento de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

Editora invitada

 

 


 

As definições mais habituais do projeto urbano moderno atendem à definição do solo como traçado, ao edifício como ocupação, às circulações como redes e às relações entre cheio e vazio como tecido. Durante a década de oitenta era comum ouvir-se que a definição moderna de cidade havia insistido em concentrar os componentes urbanos na unidade do edifício e deixar um território abstrato sobre o qual se traçavam as redes de conexão entre as arquiteturas. A superfície verde era abstrata, teórica e, em alguns casos, ideológica, pois se referia à propriedade pública do solo.

Porém, com o passar do tempo, e abandonando uma concepção simplista de leitura, aprendemos a ver nas especulações projetuais modernas algo mais do que um diagrama, e nos próprios projetos e realizações algo mais do que a mera condição negativa dos prismas no espaço abstrato de uma geografia indiferente.

É assim que as relações entre a arquitetura moderna e cidade histórica podem ser lidas como pertencentes a campos concorrentes, não necessariamente opostos ou confrontados.

As tensões para verticalizar os centros das cidades, manifestadas por meio de unidades arquitetônicas, constituem ainda hoje uma fonte esclarecedora sobre os processos de confronto e negociação entre conservação e transformação, tanto no plano teórico quanto nos próprios fatos, capazes de informar o presente.

 

 

Os conjuntos habitacionais modernos foram em si mesmos catálogos tipológicos de possíveis projetos urbanos. Os primeiros constituíram as grandes operações territoriais baseadas nos blocos alinhados, mas essa variedade restrita foi superada quando a dimensão coletiva assumiu também a forma de redes estruturantes, por meio de tramas configuradas por circulações verticais e ruas elevadas. Como se alguns conteúdos do tecido urbano tradicional assumissem posições no espaço para outorgar maior fruição à forma abstrata.

A relação com a natureza, mesmo quando parece esquiva e sublimada, foi proposta tanto ao nível arquitetônico como urbano. A ideia de parque público colonizou quase todos os temas arquitetônicos, tanto na forma do terraço jardim quanto nas revisões tipológicas que deram origem a parques construídos pela arquitetura.

Entre os temas que estabeleceram uma relação privilegiada com a natureza, estiveram aquelas urbanizações que, ajustadas às condições territoriais, assumiram a topografia como motivo central; bem como aquelas destinadas à fruição e recreação públicas, em relação com a água, o sol e o descanso.

Nas propostas mais especulativas, como o City-Block de Wladimiro Acosta, percebe-se uma firme relação com o traçado da quadrícula fundacional, bem como uma profunda e nova relação com a natureza, na forma de praças, ruas arborizadas, ou terraços verdes nos níveis onde emergem as torres.

 

Diagrama

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La supermanzana de Lucio Costa para Brasilia. Costa, L. (1957). Memória Descritiva do Plano Piloto (p. 292). En L. Costa (1995), Registro de uma vivência (pp. 283-295). Empresa das Artes.

 

Na imagem com que Lucio Costa apresentou a superquadra no concurso para Brasília, os edifícios apenas aparecem acima das copas das árvores. Na verdade, a justificativa de Costa para o desenho das superquadras como regra do tecido residencial de Brasília começa com as árvores, não com os edifícios. Na Memória Descritiva do Plano Piloto, a solução defendida para o problema residencial é a criação de “uma sequência contínua de grandes quadras dispostas, em ordem dupla ou singela, de ambos os lados da faixa rodoviária, e emolduradas por uma larga cinta densamente arborizada, árvores de porte” (Costa, 1957, p. 291), que deveria constituir o “enquadramento vivo” (Costa, 1967, p. 308) que preserva o conteúdo da superquadra.

 

Toda leitura possível deste desenho é por si só uma oportunidade para rever o papel da natureza no projeto urbano à luz da visão ambiental contemporânea.

A emergência climática e a complexidade que a questão ambiental atingiu, nas suas múltiplas dimensões políticas e sociais, não só provocaram avanços técnico-científicos, como reposicionaram a natureza nos debates culturais e artísticos, na procura por novas racionalidades ambientais. Nas últimas décadas, a história ambiental tem procurado compreender o meio ambiente no seu contexto histórico e, ao mesmo tempo, a história humana no contexto ambiental (Isenberg, 2014, p. 3).

A consideração do projeto urbano moderno insere-se num esforço análogo de reconhecimento do legado disciplinar da arquitetura moderna, procurando situar retrospectivamente a questão ambiental no seu interior, bem como examinar os seus diferentes papéis na construção do ambiente. Os trabalhos apresentados, a partir da diversidade de abordagens e enfoques, contribuem para a necessária produção da leitura histórica do projeto da cidade moderna, capítulo fundamental da história da construção do ambiente humano. 

 

 

 

 

Referencias

Costa, L. (1957). Memória Descritiva do Plano Piloto. En L. Costa (1995), Registro de uma vivência (pp. 283-295). São Paulo, Empresa das Artes.

Costa, L. (1967). O urbanista defende sua cidade. En L. Costa (1995), Registro de uma vivência (pp. 301-310). Empresa das Artes.

Isenberg, A. C. (Ed.). (2014). The Oxford Handbook of Environmental History. New Oxford University Press.

                                                    

 

 

 


Horacio Torrent

Arquitecto, Magister en Arquitectura, Doctor, Profesor Titular. Escuela de Arquitectura, Pontificia Universidad Católica de Chile. El Comendador 1916 Providencia Santiago, Chile.

htorrent@uc.cl
https://orcid.org/0000-0003-3637-586X

 

Claudia Costa Cabral

Arquitecta, Doctora. Profesora Titular. Investigadora del CNPq. Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura (PROPAR). Departamento de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Rua Sarmento Leite, 320. Porto Alegre, RS - Brasil. CEP 90050-170.

claudiacostacabral@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-0079-1861

 

Un dibujo con letras

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